Como um bom
ser tropical, sempre achei assombroso o fato de pessoas viverem por livre e
espontânea vontade em locais com invernos rigorosos e neve. Tinha um pouco de
medo e calafrios só de pensar em lugares frios, já tinha uma imagem mental de
um lugar frio cinzento e pessoas fechadas, nada convidativo. Sempre adorei a
tropicalidade, o calor, pouca roupa, pessoas festivas, praia mar, cachoeiras e
banhos de piscina.
No primeiro
ano da nossa viagem foi fácil, começando o inverno zarpamos para o verão
natalino Brasileiro, e na volta escolhemos a scicilia, super mediterrâneo aonde
a menor temperatura que pegamos foi 18 graus o que foi maravilhoso! E seguimos
a India , que almenos nos lugares que passamos de inverno não tinha nada. Ao
contrário foi queeente, mais do que gostaríamos ou imaginaríamos. As vezes tão
quente que ficava difícil, pensar ou mover. Sim muitas vezes o melhor da índia
foi banhos de balde gelado e deitar na cama com ventilador no máximo, isso era
Glória, ou nadar no cocho dos bois a cimento frio após três horas de trabalho
no campo. um luxo mesmo que com toda baba de boi, e capim amassado. Seguimos
por um ano quentíssimo, tivemos uma primavera
de sol e calor na França, com direito a banhos de cachoeira e lago,
mangueira e piscina e seguidos para um verão esturricante na costa da Croácia
aos pés do mar adriático. Que secura, que quente, acordar às 5:30 e começar a
trabalhar as 6:00 pq depois das 10:30 era impossível, as 9:30 já estávamos
suando... depois do almoço não dava pra fazer nada a não ser se render a Siesta
no lugar mais ventilado e sombrio, só depois das 15:00 tínhamos força para
caminhas 10 minutos e chegar a praia. Depois disso seguimos para o Brasil,
pegamos os tal dos 40 graus do rio de janeiro, subimos para a Bahia e passamos mal de calor nos 40 graus
úmidos da Amazônia. Gente que calor é esse???
Neste segundo
ano nos determinamos a enfrentar o tal
INVERNO, o que tanto me apavorava e o que tanto me escondia.
Chegamos na Hungria que em final de
novembro já apresentava temperaturas negativas... -8, -5... No início foi um
susto o choque térmico, mas depois com roupas apropriadas, passamos a desfrutar
e entender o valor do Inverno.
Tudo isso
amenizado pelos banhos termais incríveis, que mesmo estando -8 lá fora e tudo
literalmente congelado, estávamos desfrutando um dia de piscinas e banhos
termais medicinais incríveis super relaxantes e cheio de atividades incríveis
para Joaquim, como cachoeiras, tobogãs, e hidromassagens.
O que mais
me impressionou foi que não se passa frio! As casas são construídas para isso,
tem isolamento, vidros duplos, sistema de aquecimento. Na verdade cheguei a
passa calor dentro de casa. E as roupas adequadas, que te deixam completamente isolado. Eles tem botas para
-20, -40... Aquelas botas fofinhas dentro, impermeáveis por fora e com um belo
griping para não escorregar na neve.
O inverno
nos proporcionou muito mais tempo dentro de casa, e assim tivemos tempo para
desenvolver talentos, estudar, descansar. Foi um convite ao cuidado de nós mesmos. Praticamos
violão, pela primeira vez consegui tocar músicas que amo. Tirei o trauma e
toquei com o coração, vibrando a cada nota. Pintei, placas, sinais, casa e
janelas. Aprendi o típico bordado húngaro com uma senhorinha de 70 anos. E me
pus a bordar e costurar tantas coisas. Voltei a tricotar. Fizemos diversas
receitas com os escassos ingredientes do inverno. Estudamos, pesquisamos e
fizemos planos, escrevemos, organizamos tantas coisas. Meditamos, acessamos
outras dimensões de nós mesmos, esse belo convite ao profundo e íntimo.
Yoga para
ajudar e alongar e criar espaços, a dança para mover criar e expressar, longos
banhos de banheira para relaxar e muitas
compressas de sal quente para aquecer e retirar a dor .Respirar o ar fresco,
escutar o profundo silencio da neve,
perceber os diferentes tons do branco. Esse convite para desacelerar, para
esfriar, para ir para dentro.
O aconchego
do chá quente, uma sopinha e um risoto ganham um outro significado. Compreendemos
e vivenciamos a importância das madeiras para fazer o fogo. Fazer o fogo, esse nosso
costume ancestral, que nos permitiu tantos avanços, quanta memória nesse lindo
gesto. E a beleza, a dança do fogo, as cores o conforto, a comida do fogão a
lenha que já aquece com seu aroma e calor toda a casa.
Cachoeiras
congeladas, fazer luminárias de gelo, sorvete de neve, slurp. Guerras de
bolinha de neve, deslizar num trenó. Uau tantas novas experiências.
E depois,
fico aqui imaginando a beleza e da chegada da Primavera ! todas as árvores rebrotando,
o verde voltando os bichos celebrando! As flores e a volta aos poucos de toda a
atividade!
No final
das contas é muito mais fácil ficar confortável no inverno do que no verão.
Conclusão, nós tropicais é que somos verdadeiros
guerreiros de suportar tamanho desconforto térmico. Dá-lhe Chuva Suor e
Cerveja!